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Surpresa Rara

15 agosto, 2008

Fui fazer uma matéria de um pescador que pegou um peixe de 1,70 m. Saí do jornal achando que ia encontrar um desses peixes gorduchos, grandões, com nadadeiras.
Quando me deparei com aquele peixe comprido e finééérrimo não sei nem se fiquei decepcionada ou admirada. Só me dava impressão que o peixe iria rasgar a qualquer momento. Nenhum dos pescadores sabia dizer que raio de peixe era aquele, mas uma coisa estava certa, ele iria para a panela.
Quando cheguei ao jornal, sabia que precisava ir atrás de alguém pra me dizer, afinal, que espécie era… Mas quis escrever a matéria primeiro, só que quando escrevi que o peixe iria para a panela, me deu um arrepio. Eu precisava descobrir imediatamente que peixe ele era! Imagina se pudesse ser alguma espécie rara? Eles iriam comer!!!
Liguei urgente pra um oceanógrafo que eu entrevistara na véspera para uma matéria sobre guarda-compartilhada! E não é que ele me deu o caminho para descobrir a espécie e no final, o peixe era realmente uma raridade? Assim que soube, liguei pro pescador. Por sorte, o peixe ainda estava intacto!

Abaixo a matéria, e depois um email que recebi do oceanógrafo:

Um apelidou de ‘peixe-camarão’. A maioria preferiu não arriscar um palpite. Nem o mais experiente dos pescadores, entre os que ali estavam, vira um peixe como aquele. E o que mais intrigou: a conversa de pescador era verdadeira. O animal estava ali e ninguém sabia dizer a sua espécie.

O peixe prateado de 1,70 metros e 22 centímetros de largura era fino como um papel e parecia que iria rasgar. Ele também não tinha nadadeiras. A novidade agitou o remanso da baía da Praia de Fora, na Palhoça, na Grande Florianópolis, na manhã de ontem.

Por volta das 7h30min, o pescador Carlos Alberto da Silveira, 50 anos, fora avisado por um amigo que um peixe muito estranho nadava a cerca de uns 30 metros da praia. Acostumado a pescar desde os 8 anos, ele não pensou duas vezes, pegou a tarrafa e correu para o mar. Foi fácil, Carlinhos admite. O animal não reagiu e caiu na rede.

Carlinhos não podia esperar surpresa mais bonita naquela manhã.

– Quando vi, me deparei com esse peixe lindão e maravilhoso!

O difícil foi saber que peixe exatamente era aquele. Manoel da Silveira, 72 anos, pai de Carlinhos e pescador desde os 12, contou que nunca vira um assim. Já pegou de tudo, já foi para alto-mar, mas aquele ali era novidade.

O irmão de Carlos, Cláudio, e os amigos também foram conferir. Definitivamente, o peixe não é da redondeza. Eles contam que já pegaram outros peixes grandes, como uma pescada-amarela, de 1,20 metros e que pesava 18 quilos. Para ninguém duvidar, o feito foi retratado e ganhou até moldura, que fica no bar de Carlos, à beira-mar.

Carlinhos, o pai e os amigos acreditam que provavelmente o peixe misterioso tenha se perdido numa corrente ou então, fora levado à baía por algum predador. Ele afirmou que o animal é parecido com um espada.

_ Mas a boca é totalmente diferente, ele tem essas espécies de barbatanas e isso, que parece uma antena na cabeça _ observou Carlinhos.

Os olhos esbugalhados são outro indício de que a novidade veio de longe.

_ Esse olho é de peixe de água profunda.

Foi preciso consultar um especialista no assunto para desvendar o mistério. O biólogo e professor da Universidade de São Paulo, José Lima de Figueiredo, informou que o animal encontrado é da família Regalecidae. Ele desconhece um nome popular.

Lima acredita que tenha sido o primeiro peixe da espécie capturado na região e até mesmo no Brasil. Outros já foram vistos, mas não pescados. Lima ainda disse que esse é o mais longo dos peixes ósseos, podendo chegar a 8 metros de comprimento. Eles podem ser encontrados em todos os oceanos, longe da costa.

Pelo tamanho e formato, teria sido essa espécie que deu origem às lendas das serpentes marinhas gigantes.

O destino inicial, que seria a panela, parece que será o museu. Lima recomendou que ele fosse conservado.

_ Seria muito importante para uma universidade ter essa espécie.”

A história teve um final feliz:

“OI Júlia
Falei com o Carlos Alberto e ele vai conservar o peixe para mim. Devo ir buscar até o final de semana.
Obrigado…com certeza tiveste uma contribuição muito importante para a oceanografia.
Abraço
Nestor”

Foto: Susi Padilha - O pescador Carlos Alberto com seu peixe misterioso